Sobre o ciúme

Tenho uma colega que é bonita, estudada, bem casada, mas que tem um problema que afeta sua vida e a de quem está por perto: ela sofre de ciúme doentio! Controladora ao máximo, não deixa que o marido vá nem a casa da própria mãe sozinho, desconfia que as cunhadas estejam tramando para separá-lo dela, cheira roupas à cata de odores femininos suspeitos, aparece de surpresa no trabalho do marido para conferir se ele está lá e tem brigas homéricas, daquelas em que os vizinhos chamam a polícia.Arranha carro, bate na cara, ameaça matá-lo para depois ameaçar se matar caso ele a deixe, explode por qualquer desconfiança.

Não trabalhamos mais no mesmo setor, mas nos encontramos às vezes, durante cursos de treinamento.Sei que ela é assim e evito tocar no assunto, mas hoje foi inevitável.Em meio a muitas meias frases ela deu a entender que eu ou não gosto do meu marido, ou sou muito ingênua e não percebo o quanto facilito para que outra mulher o tire de mim.

Deixei-a falar e ela se abriu, contando as brigas que já teve para, segundo ela, “mantê-lo na linha”. Falou entre outras coisas, que certa vez havia jogado a carteira do marido fora para que ele não saísse de casa. Eu, que não pedi conselho algum, acabei ouvindo que dou chance para meu marido encontrar outra e etc.

 Eu ouvi tudo aquilo até dizer o que penso:

Se for para ficar comigo por falta de opção, eu não quero. Quero o meu homem livre para ficar a meu lado por querer e não porque não conseguiu coisa melhor.

Ficar vigiando, me corroendo por dentro, imaginando conspirações? Isso é pior que levar chifre.Ter essa trabalheira toda para fazer ele ficar do meu lado? Não quero, para mim não vale assim. Só quero comigo quem me ame e me respeite.

Eu o amo muito, quero que ele fique comigo e só comigo, sofrerei e muito se ele se apaixonar por outra, mas forçado para mim não vale.

É claro que nesses anos todos já senti muito ciúme de umas mulheres mais assanhadinhas.Deu mesmo vontade de rodar a baiana, mas me segurei.Preferi a conversa olho no olho.Disse a ele que estava me sentindo mal com a atitude delas. Felizmente ele entendeu e não deu margem para que a coisa crescesse, foi maduro o suficiente para não me magoar. Ele podia se sentir envaidecido e ficar me provocando, mas o amor e o respeito dele por mim foi maior que o ego. Sou muito agradecida e o amo mais ainda por isso.

O que eu faria se ele tivesse agido diferente? Pode ter certeza que eu não ia arranhar carro nem tentar me matar. Mesmo doendo eu não ficaria com alguém que gostasse de me provocar ciúmes. Prefiro a dor da separação à agonia de ficar insegura e magoada o tempo todo.

Quanto a tal colega,acho que ela não entendeu o que eu disse. O amor sem possessão parece ser até imoral para ela. Ficou me olhando estranho, como se eu falasse grego, mas eu nem liguei..Acho que no próximo curso ela não se sentará a meu lado.