Crianças no supermercado

“Eu sempre te falei,Fran.Dois filhos para dois pais.Mas você, nããão! Decidiu ter mais um.Agora o que aconteceu? Eles estão em maioria.Perdemos,Fran!”

                                                                                                     Dino da Silva Sauro

Meu filho, que nasceu em junho, decidiu que sábado era sua festa de aniversário. Tentei argumentar:

“Ainda não é seu aniversário filhote.Você ainda não faz seis anos, está com cinco e um pouquinho.”

“Então é aniversário de cinco e pouquinho!” Disse ele irredutível e lá fomos nós as compras com ele avisando que iria comprar bolo, chapéu, vela e presente.

Qualquer pessoa atenta pode observar que pais com filhos pequenos em um hipermercado seguem um ritual inconsciente enquanto fazem compras. Existe o grupo que deixa a molecada livre para fazer o que bem entende, existe o grupo que corre atrás das crianças e os que mantêm os filhos tão grudados que esquecem as compras. Eu pertenço a esse último grupo, prefiro colocar meu filhote dentro do carrinho, amassando verduras do que solto derrubando latas. Mas sábado meu marido estava junto,então achei que não tinha problema relaxar um pouco.

Fui pegar material de limpeza com minha filha e achei que meu filho estava com o pai. Ele por sua vez, foi pegar leite e achou que Felipe estava comigo. Felipe por sua vez, foi atrás do seu bolo de aniversário. Quando reencontrei meu marido e não vi meu filhote perdi o chão, rodei o mercado várias vezes sem encontrá-lo. Quanto mais o tempo passava, mais coisas horríveis me vinham a cabeça, seqüestro, tráfico de órgãos, pedofilia, todas as manchetes de jornais pipocavam na minha frente. Cheguei a entrar no banheiro masculino para ver se não tinha nenhum tarado com meu filhote lá dentro. Os homens que usavam o mictório levantaram os zíperes constrangidos. Acho que de tão chocados com meu desespero não conseguiram nem reclamar.

Mandei anunciarem no sistema de som, mobilizei o mercado inteiro, muitas pessoas se solidarizavam e ajudavam a procurar, outras me encaravam com olhos julgadores, como se eu fosse a criatura mais irresponsável da face da terra. Eu tentava esconder o choro, para não assustar minha filha. Seguranças já estavam a postos, para verificar as filmagens do circuito interno.

Meu marido foi procurar do lado de fora e decidiu pegar o celular no carro e ligar para a família vir dar uma força. E então, alívio! Meu filhote havia ido para o carro e ficara lá, pacientemente esperando que nós aparecêssemos.

Quem conhece o Carrefour sabe o quanto o estacionamento é grande e como fica cheio aos sábados. Quem me conhece sabe que tenho o senso de direção de uma toupeira. Não sei a quem esse carinha puxou para conseguir encontrar o rumo do carro, até mesmo reconhece-lo em meio a tantos outros carros iguais.

Fiquei tão aliviada que chorava e ria ao mesmo tempo. Claro que comprei o tal bolo que ele queria, os chapeuzinhos de festa, as velas e celebrei o aniversário de cinco anos e pouquinho como a vida e o amor merecem ser celebrados: todos os dias e cada minuto! Da próxima vez que for ao mercado, o Felipe volta para dentro do carrinho mesmo que seja encima do pé de alface!