Fui uma adolescente chatinha, daquelas que peço a Deus para minha filha não ser igual.Eu me achava mais bonita do que era, mais esperta do que jamais consegui ser e mais inteligente do que jamais serei.
Naquele tempo não havia esta expressão “ficar”, mas eu ficava muito! Posava de experiente, mas era puro fingimento, eu era a mais donzela das criaturas.Se existisse Procon na época os garotos poderiam me processar por propaganda enganosa!
Em casa o mundo estava acabando, dívidas, brigas, traições. Meus pais se perdiam em um poço de mágoas e acusações, não sabiam viver juntos e nem separados e eu vivia em uma realidade paralela, ignorando tudo de ruim que acontecia, preocupada apenas com meus sonhos.
E lia muito! Lia coisas que uma garota de dezoito anos não precisava ler, como Jean Paul Sartre, Cervantes, Knut Hamsun..Ler fazia parte da minha fuga para um mundo menos complicado.Estudava a tarde, mas ia para escola logo pela manhã e ficava na biblioteca,lendo ou pelos cantos, namorando.
Na escola eu me sentia bem, principalmente nas aulas de português. Em uma dessas aulas a professora fez a seguinte proposta: pegar um trecho de poema e desenvolver uma poesia. A mim coube o seguinte trecho de Carlos Drumont de Andrade:
"As lições da infância
desaprendidas na idade madura.
Já não quero palavras, nem delas careço."
desaprendidas na idade madura.
Já não quero palavras, nem delas careço."
Não me lembro como fiz, mas até que saiu um poema. Lendo hoje percebo que eu era bem revoltada! Os versos falam de broncas que levei dos dez aos dezoito anos e como me sentia a respeito.Hoje vejo que a similaridade com o que Drumont escreveu é mínima.
Entretanto,a professora gostou.Mostrou para as outras e decidiram que meu soneto capenga representaria a escola em um concurso a nível regional.
Cheguei em casa com a novidade, mas meus pais não acreditaram, ou não se interessaram, não me lembro bem.
O que sei é que meus versinhos representaram muito bem a minha escola. Fiquei em terceiro lugar e fui publicada no jornalzinho local. Hoje em tempos de mídia global pode não parecer muita coisa, mas naquela época foi o máximo! Me senti a Cecília Meireles do cerrado.
É incrível como um elogio, um reconhecimento de um professor pode fazer diferença na nossa vida.Com certeza a professora não sabe o bem que me fez.Já passei dos quarenta e ainda guardo o recorte do jornal.Às vezes, fico relendo e relembrando como aquele dia foi bom!
Deixei-o guardado por muito tempo, e isso aqui é um blog de reminiscências. Meu soneto de anos atrás tem o direito de estar aqui.Peço emprestado àquela garota que fui, a coragem que não tenho mais e posto o nosso poeminha, feito em 1987:
Dezoito
Tem gente correndo o mundo,
atordoados, confusos.
Coração Quixote, tenho dezoito anos
Obtusos...
Dez anos:
- Não pule a cerca!
Você está ficando mocinha.
- O liquidificador não funciona mais.
Culpa minha.
Doze anos:
- Largue este batom
Você é criança.
Corpo mudando, cabeça turva...
-Não brinque, você já é adulta!
Ser somente eu, nunca!
Quartoze anos:
Trancada no quarto.
Traves,entraves, rastros, solidão.
Ler romances,vazios espaços,
Pequenos problemas sem solução.
Dezesseis:
- O dever de física, você não fez?
Não!
- Essa menina me mata de vez!
Antes morro de solidão!
E agora
esse mundo tá louco,
Tô com dezoito
e bebo muita água.
Tô com dezoito e o que fiz?
Nada!
Que linndo este poema, antigamente eu era mt viciada em poemas e poesias, hoje em dia prefiro livros mesmo, de romance, aventura,moda..quanto maiores melhor, hahaha, bjss!
ResponderExcluirhttp://dezahoffmannmoda.blogspot.com
Oi!
ResponderExcluirNossa, vc escreveu isso com 18 anos? Puxa, vc era inteligente pra sua idade hein... :D
Já eu sempre fui muito tímida e complexada, fui relaxar e curtir mais a vida quase aos 20... então não posso dizer que fui uma criança/adolescente difícil, muito pelo contrário... chegava a ser quase letárgica, hahahaha!
Beijão, tô adorando o seu blog!
izabellaniquito.blogspot.com
Amiga de capenga esse lindo poema não tem nada,pode acreditar,e você pode até dizer.
ResponderExcluirO que essa maluca entende de poema?
E eu te digo que de poema eu não entendo muito,mas para mim a boa leitura é aquele que quando lemos ,entendemos exatamente o que o autor quiz passar,e eu te vi,em todas as idades.
Aos 10 ,levando culpa por tudo que da errado.
Aos 12 ,confusas sem saber se era gente grande ou criança.
Aos 14 perdidas com os seus problemas ,sem encontrar solução.
Aos 16 ,as cobranças que de nada ajudam,só aumentam a confusão .
E aos 18 ,a certeza de que nada fez,nada sabe ,e agora?
Viu como entendi!
Amiga o que nos faz melhores que nossos pais ,é querer dar aos nosso filhos tudo o que não tivemos,e falao não do lado material,mas do lado afetivo,procuramos da aos nossos filhos os verdadeiros pais .aqueles que não tivemos.
Oi Clê,
ResponderExcluirAmei o poema e a história que o precede. Vc já leu "O Apanhador No Campo de Centeio", do Salinger? Se não leu, deveria, pois esta revolta adoleste, com valor literário, é toda do "Apanhador".
Obrigada por ter retribuído a visitinha. Adorei! É sempre bom ganhar uma nova amiga.
Beijos 1000 e uma noite maravilhosa para vc.
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menina de capenga esse poema n tem nada..
ResponderExcluiré lindo e mto maduro p sua idade naquela época..
e depois dos 18?vc seguiu lendo e escrevendo poemas ou aposentou a carreira?rs
Olha eu cada vez mais vejo que temos mto em comum..
Além do amor pelos gatos o amor pelos livros..
Sò que na minha adolescência em termos de auto estima eu era o oposto..Me sentia o patinho feio, gorda e desinteressante..
Meus poemas sempre culminavam p o lado da depressão..nunca esquecerei do poema que escrevi no auge da depressão no qual eu dizia que me sentia uma morta viva, viva por fora e morta por dentro e que contava os minutos para eu dar meu ultimo suspiro..triste ne?
mas graças a Deus superei isso tudo, encontrei a felicidade em mim..
Naqueles tempos eu era tímida, tinha medo de falar o que pensava e meu refúgio era a biblioteca..Meus recreios eram sempre lá..
Lendo histórias lindas e sonhando como se eu fosse a protagonista..
Hj eu n escrevo poemas mais, escrevo mais crônicas principalmente no blog, mas ainda gosto de ler..
beijossssss e acabou que eu viajei na minha adolescencia através da sua viagem hehe
Oii! Adorei o post! (:
ResponderExcluirTem sorteios rolando no meu blog, espero sua visitinha lá!
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Olha, eu não achei seu poema fraquinho não. Tem muito de você, do que você era e sentia. Gostei mesmo!
ResponderExcluirNossa como vc escreve bem, adorei o poema..tem muito dom para isso :D
ResponderExcluirEscreve com a alma e o coração!!!
Lindo ;)
Beijos
Té
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